segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Até quando o preconceito contra a idade vai persistir? por: Afonso Bazolli, Por Vicky Bloch

Até quando o preconceito contra a idade vai persistir?

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Valor Econômico
12 de janeiro de 2014 - 14:00
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Por Vicky Bloch
Quando será que as empresas vão começar a olhar com mais carinho para os profissionais com mais de 60 anos? Confesso que fico extremamente feliz quando surgem casos de organizações que enxergam seus funcionários a partir da sua entrega, e não da sua idade.
Quando vejo, por exemplo, o caso de um cliente de 75 anos que foi contratado para assumir a estruturação de um projeto em um hospital importante. Ou quando vejo organizações que estão percebendo a importância de ter gente experiente e com sabedoria para guiar os mais jovens.
Tenho notado o crescimento do número de aposentados que são contratados como prestadores de serviço, assim como já ouvi a história de uma empresa de call center que estava pensando em chamar mulheres com mais de 50 anos para serem operadoras de telemarketing trabalhando a partir de casa. Mas sei que esse movimento ainda está a anos-luz de ser uma tendência.
Pense em uma pessoa que você conhece que hoje tenha 60 anos (ou você mesmo, se for o caso). Posso apostar que essa pessoa não se sente representada naquela imagem do velhinho de bengala que indica a fila preferencial no banco ou a vaga especial de estacionamento.
Gente dessa idade que eu conheço, assim como muitos na casa dos 70 anos, é jovem de cabeça, ativa, saudável e produtiva. Além, obviamente, da grande bagagem de conhecimento e experiências adquiridos. Grande parte deles não parou de se atualizar. Diria que muitos estão no auge da produção.
E o que o mercado de trabalho faz com essas pessoas? Descarta. As organizações ainda enxergam as pessoas mais velhas da mesma forma que 20, 30 anos atrás, como profissionais desatualizados, com dificuldade de adaptação às novas tecnologias e resistentes à mudança.
Agora vamos fazer um exercício a partir de um fato real: a população brasileira está envelhecendo e a nossa jovem pirâmide tende a se transformar consideravelmente nas próximas décadas. Segundo os cálculos de tendências demográficas do Ipea, o Brasil deve envelhecer nos próximos 30 anos o que a Europa levou séculos para envelhecer. Em 2040, mais de 57% da população em idade ativa terá mais de 45 anos. Se o mercado de trabalho não se adaptar, o que será dessa enorme massa de gente experiente e madura sendo descartada?
A PwC em conjunto com a Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-Eaesp) divulgou recentemente um estudo sobre o envelhecimento da força de trabalho no Brasil, mostrando as consequências positivas e negativas dessa mudança. A pesquisa deixou claro que os profissionais mais velhos ainda não são vistos como uma alternativa para lidar com a escassez de talentos.
Somente 27% são proativas na contratação de pessoas mais velhas e daquelas próximas a se aposentarem. O estudo mostrou também que existe pouco investimento na transferência de conhecimento e experiência nas organizações, o que é considerado o principal ativo dos mais velhos. Quando a aposentadoria se aproxima, as organizações não oferecem oportunidades de carreira nem incentivos à permanência deles na empresa.
Obviamente estamos falando de pessoas que não têm mais o mesmo pique e ansiedade que os jovens. Provavelmente elas almejam por alguma flexibilidade, afinal sua bagagem permite que não precisem ter o mesmo nível de execução que um estagiário. Dão mais valor à família e ao equilíbrio pessoal do que quem tem menos a perder no começo da carreira. E isso é absolutamente natural. Não adianta apenas fazer a conta de que os profissionais mais velhos custam mais caro e não enxergar o valor agregado da experiência, conhecimento e networking que possuem.
É fundamental que as organizações comecem, desde já, a se prepararem para o novo cenário que se aproxima e dar oportunidades às pessoas mais experientes. E vejam bem, não estou falando de manter profissionais de baixa performance – há gente de todas as idades com desempenho ruim e a elas se deve dar o tratamento devido. Refiro-me, sim, a uma quebra de paradigmas nas políticas e práticas de recursos humanos. A começar por eliminar o preconceito contra a idade.
Vicky Bloch é professora da FGV, do MBA de recursos humanos da FIA e fundadora da Vicky Bloch Associados

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