sexta-feira, 14 de março de 2014

Consultores ajudam aqueles que não conseguem dormir por: Afonso Bazolli

Consultores ajudam aqueles que não conseguem dormir

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Valor Econômico
16 de fevereiro de 2014 - 14:00
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Por: Emma Jacobs
Guy Meadows trabalhou como pesquisador nos laboratórios de estudos do sono dos hospitais Charing Cross e Royal Brompton, de Londres. Ele passava as noites observando pessoas com desordens do sono enquanto elas tentavam “pregar” os olhos. Oito anos atrás ele decidiu que já era o bastante: “Eu estava cansado de ver pessoas tentando dormir. Por outro lado, eu trabalhava em turnos e sabia o quanto isso faz mal para a saúde”.
Entretanto, esse trabalho o convenceu de que havia um mercado entre as pessoas desesperadas por curar seus problemas de falta de sono. Hoje, Meadows, 36 anos, que se descreve como uma pessoa “com sono normal, com alguns distúrbios” – ele tem dois filhos com um e três anos – trabalha como consultor do sono.
Meadows faz parte de uma profissão em crescimento, que trata do aconselhamento a indivíduos e empresas sobre como dormir bem. De acordo com ele, trabalhar muito e em fusos horários e tecnologias diferentes deixa muita gente “cansada, mas li gada”. “Quando o homem trabalhava no campo com seus arados, não olhava o Facebook e o Twitter. Seu cérebro era muito mais tranquilo. Hoje, nossos cérebros são tão estimulados que não conseguimos mais dormir”, diz.
Seu mantra é que aqueles que dormem melhor não fazem nada para conseguir isso, enquanto os insones fazem muita coisa. Ele diz que seus clientes acabam deitados na cama dizendo a si mesmos: “Corri uma meia maratona, não tomei nada com cafeína ou álcool e mesmo assim não consigo dormir”. Sua estratégia é ensinar as pessoas a “tirar da cabeça que têm dificuldade para dormir”.
Algumas companhias, como Google e Procter & Gamble (P&G), estão investindo no sono, com iniciativas que vão de palestras a treinamento para gerentes de recursos humanos sobre como aconselhar os funcionários a melhorar suas rotinas de sono. As dicas incluem deixar smartphones e outros dispositivos de lado e ir para a cama em horários regulares. Consultores de sono também oferecem orientações sobre iluminação que regula a melatonina, ou os melhores horários para viagens aéreas internacionais.
“Os empregadores podem ajudar ficando atentos aos turnos e deixando os gestores cientes dos perigos da cultura do trabalho duro por períodos prolongados”, diz Meadows. A promessa de fazer alguém dormir é tão atraente que o especialista também está trabalhando com os departamentos de marketing de marcas como Estée Lauder, Tui e Thomson, para incorporar o sono na apresentação de seus produtos.
Rebecca Robbins, coautora do livro “Sleep for Success”, está trabalhando com o Benjamin Hotel de Nova York como consultora oficial do sono. Este hotel de luxo também oferece um cardápio de travesseiros e alimentos que induzem ao sono. Ela está concluindo um PhD sobre o assunto na Universidade de Cornell e vem fazendo palestras em bancos e empresas de tecnologia.
Segundo Rebecca, embora seja importante um executivo-chefe pregar a importância do sono para ajudar a mudar a cultura de uma empresa, são aqueles que estão mais abaixo na hierarquia que fazem a maior diferença. “Os gerentes de equipe podem observar os níveis de cansaço dos funcionários. Eles podem mudar o foco e passar a contar a qualidade das horas trabalhadas, e não a quantidade”, diz.
Nancy Rothstein dá consultoria e faz palestras sobre como dormir bem para seus funcionários. Ela acredita que como a economia americana melhorou, as empresas estão começando a olhar para o sono como uma parte dos benefícios que oferecem. “As companhias dão atenção para a boa forma e a dieta, mas se esquecem do sono”. Para Rebecca a noção que se tem é que dormir é para os preguiçosos. “Ao irmos para uma academia de ginástica, somos encorajados a aumentar nossa produtividade, quando na verdade o que a maioria de nós precisa é dormir mais à noite.”
Russell Sanna, diretor executivo da divisão de medicina do sono da Harvard Medical School, concorda. Segundo ele, os chefes ainda não estão convencidos de que dormir é importante para se obter um desempenho máximo. “A cúpula das organizações, na maior parte das vezes, não valoriza o sono como um ativo de desempenho. A norma é que dormir é coisa de perdedor.”
Ele acrescenta que o sono é considerado um comportamento particular e não algo com que um gestor possa perder tempo. Todavia, dormir mal tem consequências também no local de trabalho. A privação do sono é tão generalizada que, do ponto de vista da saúde pública, ela pode ser considerada “o novo cigarro”.
Dormir mal não só afeta a produtividade, como também causa impulsividade e afeta as tomadas de decisões, segundo os pesquisadores do sono. Não dormir de forma adequada tem sido a causa de 7,8% de todos os acidentes Classe A da Força Aérea dos Estados Unidos (definidos como aqueles que custam US$ 1 milhão ou mais).
Trabalhadores americanos que sofrem com esse problema custam aos seus empregadores US$ 63 bilhões em perda de produtividade, segundo um estudo feito em 2011 pela Harvard Medical School. Outro levantamento publicado em 2011 na “Organizational Dynamics” constatou que “membros de equipes com sono têm uma probabilidade maior de se envolverem em conflitos e fazer corpo mole”. Há também fortes ligações entre a falta de sono crônica e obesidade, diabetes e depressão.
No entanto, nenhuma discussão de consultores do sono é completa sem aqueles que ajudam pais a lidar com filhos pequenos que acordam à noite. Louise Moxon criou a Cocoon, uma agência em Londres que fornece orientação a pais desesperados com esse problema.
Em sua opinião, as mudanças ocorridas na sociedade nos últimos anos estão levando os pais a pagarem por uma ajuda que antes vinha da própria família. “Na geração anterior, frequentemente era a avó que dava conselhos e todo o suporte necessário. Agora, parece que isso não está acontecendo mais”, diz. Além disso, há tanta informação na internet e em livros que “fica difícil saber em quem acreditar”.
Kim West e Deborah Pedrick, cofundadores da International Association of Child Sleep Consultants, acrescentam mais um fator: a percepção crescente sobre os efeitos da falta de sono crônica na obesidade infantil, o transtorno do déficit de atenção, hiperatividade e problemas de aprendizado em idade escolar.
Um bom consultor do sono precisa ser compreensivo com as necessidades dos filhos e dos pais, diz Louise Moxon. “Muitos pais acham a técnica do ‘deixa chorar’, por exemplo, muito perturbadora. Um bom especialista na área vai conseguir entender isso e escolher um método que funcione para você.”
Guy Meadows não trabalha com crianças, mas diz que a chave do negócio é entender o cliente. “O sono é uma coisa individual. Fala-se muito que deveríamos dormir de sete a oito horas por dia, mas na verdade essa faixa vai de quatro a dez horas. Alguns podem acordar às 5h, correr pelo parque, ler os jornais e estar no escritório às 7h30. Essas pessoas são predeterminadas a serem desse jeito”, afirma. (Tradução de Mário Zamarian)

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